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A identidade masculina segundo Robert Bly:O paradoxo entre o real e o imaginado

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A identidade masculina segundo Robert Bly:O paradoxo entre o real e o imaginado

Ana João Mexia Sepulveda da Fonseca

[ ana_sepulveda@@@yahoo.com ]
31-08-99

Mestrado em Estudos Americanos
Orientado pelo Professor Doutor Miguel Vale de Almeida
Universidade Aberta, Lisboa 1998

Aos meus pais.

Indice

Introdução
I - Iron John- A book about a man
II - O debate mediático gerado em torno de Iron John
III - A teoria da masculinidade
IV- Analise ao argumento politico de robert bly
Conclusão - bibliographia

AGRADECIMENTOS:

Gostaria de agradecer à Professora Doutora Maria Laura Bittencourt Pires, enquanto directora do Mestrado em Estudos Americanos e Directora do Centro de Estudos Americanos, por me ter convidado a realizar este mestrado e por me ter dado o apoio necessário para que nele fosse bem sucedida.

Ao Professor Doutor Miguel Vale de Almeida por ter aceite ser meu orientador, por me ter facultado todo o tipo de material necessário e por me motivar e compreender nas horas mais problemáticas.

Ao Dr. Rui Almeida, director da EURO RSCG Consulting, um grande amigo que, sem estar directamente relacionado com este assunto muito me ajudou e juntos trocamos algumas ideias sobre masculinidade e sobre a tese em si.

Ao pessoal da biblioteca da Universidade Aberta, em especial à sua directora. A prontidão e a qualidade do apoio que me forneceram foram inquestionáveis. A todas as "meninas" da biblioteca o meu muito obrigada.

Aos funcionários do centro de documentação da Embaixada dos Estados Unidos da América que me auxiliaram na pesquisa dos artigos aqui analisados.

Aos meus pais por me acompanharem mais uma vez numa jornada que nem sempre é fácil para os que estão de fora e ao meu irmão, cujo apoio logístico facilitou em muito a realização desta monografia.

Introdução

O movimento masculino mitopoético1 (1Denominação dada pelo seu fundador, pois segundo Bly este movimento utiliza a linguagem da poesia e o imaginário da mitologia como ferramentas para conduzir os homens em direcção à verdadeira masculinidade), originado por Robert Bly em meados dos anos setenta, é resultado de uma série de transformações e de movimentos sociais que ocorreram na sociedade americana, desde os anos 50 deste século.

A geração Beat, com a contra cultura e o movimento hippie geraram uma vaga de contestação das normas e valores sociais, levando ao questionamento dos papéis de cada indivíduo no interior dessa mesma sociedade. Como consequência surgiram movimentos sociais protagonizados por minorias sociais (étnicas e de orientação sexual) que lutavam por direitos civis semelhantes aos da grande maioria dos cidadãos. É a partir deste movimento de contestação do status quo vigente na América dos anos 60/70 que surge o movimento feminista e mais tarde o masculino. Assim, as relações entre os géneros e o papel de cada sexo na sociedade variou conforme se desenvolveram as lutas sociais protagonizadas por mulheres e por homens, e segundo as orientações que estes têm dado às suas reinvindicações.

Esta necessidade de analisar, definir e explicar os papéis das mulheres e dos homens na sociedade levou à criação de duas áreas de saber (women’s studies e men’s studies) que embora distintas, partilham teorias e uma biografia, por assim dizer, semelhantes. É no contexto do movimento social feminista, dentro e fora do meio académico, que se desenvolveram os women’s studies. Na perspectiva de algumas feministas havia a necessidade de dar uma resposta à sociedade não só com o intuito de validar as suas posições, como também de as fundamentar. Daí o surgimento dos estudos sobre as mulheres. Estes estudos focavam o status social feminino, a sua relação com o mundo masculino, com o meio doméstico e familiar e com o trabalho. O questionamento do papel masculino e da sua função resulta dos estudos desenvolvidos na área da antropologia, sociologia e da psicologia social relativamente à mulher, isto porque não é possível focar-se o mundo feminino ignorando o mundo masculino.

Este facto justifica que tanto o desenvolvimento do movimento masculino, como os estudos masculinos, tenham seguido uma lógica muito próxima à dos estudos feministas.

Robert Bly e outros homens, directa ou indirectamente envolvidos com a causa masculina (como o teórico Robert Connel), concordam com a afirmação de que o movimento masculino, e com ele os men’s studies, surge em consequência da análise feminista do papel dos homens na sociedade e à sua interacção com as mulheres. Numa fase inicial, havia uma sintonia relativa entre as reivindicações das feministas e dos homens que, com elas partilhavam essas mesmas reivindicações. Contudo, à medida que o discurso feminista se tornou mais agressivo, na perpectiva masculina, foi aumentando o fosso de oposição entre homens e mulheres, feministas e "masculinistas". Assim, e tal como o sentiram as feministas, os "masculinistas" desenvolveram uma nova área do saber, os men’s studies, cujo objecto consiste no estudo do homem (ser humano masculino). A finalidade dos estudos masculinos é a de melhor compreender o ser masculino e consequentemente a sua razão de ser numa sociedade cada vez mais feminista. Mas para além disso, os estudos masculinos trouxeram algumas inovações na forma como o ser humano masculino passou a ser definido.

A área dos estudos masculinos, para além de quebrar com a noção de que a masculinidade é algo de supra social, que permanece intacta, levou a que os homens passassem a ser vistos como uma categoria social; o que sempre foram, embora a assimetria sexual2 (2Distintos estudos relizados tanto na área da psicologia social, como na área do género, permitem-nos concluir que, em termos da forma como a sociedade define as categorias masculino e feminino, há uma assimetria posto que a categoria masculina é sobreposta à categoria de indivíduo, o que não se verifica com a categoria feminina. Ou seja, variando as formas de recolha dos dados, a conclusão a que se chega é que: quando se pede às pessoas que listem, ou citem, quais os principais atributos para definir o que é ser homem, o que é ser mulher e qual é o modelo desejado de pessoa, há uma sobreposição entre o modelo de pessoa com o de ser homem. Daí que a conclusão a que se chegue é que a sociedade vê de forma assimétrica homens e mulheres. Os homens são o modelo de pessoa desejada pela sociedade. E as mulheres são um grupo social definido e marcado pelo sexo) prove o contrário. Se o facto de chamar a atenção para a sobreposição da categoria de pessoa ideal com a de ser masculino foi um grande avanço dos estudos masculinos e dos estudos femininos. Os estudos masculinos foram mais fundo ao quebrar com a noção de que só há um modelo de masculinidade. As masculinidades, aliás título de um livro de Robert Connell, são diversas e existe uma ordem de valores e de força que as relaciona. A masculinidade aqui analisada, a que é o foco das atenções de Robert Bly em Iron John: A Book about Men, é a masculinidade protagonizada pelo homem americano branco, heterossexual, protestante e de classe média.

Importa assim ressalvar o facto de até à década de 80 se ter falado da masculinidade como uma só, ignorando as clivagens nela existentes. As análises ao grupo masculino dominante (wasp , White, anglo-saxon and protestant) eram praticamente nulas. A masculinidade era estudada ou sob o ponto de vista dos homossexuais, ou sob o ponto de vista da relação entre homens e mulheres. Quando o modelo dos papéis sociais é posto em causa, pelas feministas e pelos teóricos dos estudos masculinos, começaram a ser analisadas as noções de masculinidade hegemónica, de patriarcado, e por conseguinte, a relação entre estes dois e o poder. É nesta altura que o modelo de homem tradicional é posto em causa, e que o discurso sobre a falta de adaptação do grupo masculino dominante deixa de ser tema exclusivo do meio académico, assumindo grande visibilidade social.

Embora com alguns anos de atraso, a sociedade portuguesa não escapou a toda esta polémica. Desde 1992 que as revistas femininas Elle Portuguesa e Máxima têm vindo a divulgar artigos sobre a masculinidade em crise, o novo homem e o machismo. Em 1995 e 1996 este discurso tornou-se cada vez mais presente, com a publicação de artigos semelhantes em jornais como o Expresso e o Público. Já sem mencionar o aparecimento, em finais de 1995, de revistas masculinas, de formato e conteúdo semelhantes às femininas. Refiro-me à Ego, Gentleman e Quo. Apesar de o formato destas revistas não ser totalmente equivalente ao das femininas, já denotam uma tentativa de encontrar um mercado consumidor masculino que procure uma revista que vá para além das tradicionais revistas de negócios, como a Exame, ou eróticas, como a Playboy. Contudo, é importante ter em conta que grande parte dos artigos sobre a crise masculina, publicados em Portugal, são a tradução, ou a adaptação, de outros publicados nos Estados Unidos. Esta invasão, por assim dizer, das questões da masculinidade revela por um lado a hegemonia cultural americana, e por outro, a sensibilidade da sociedade portuguesa para estas questões.

O surgimento de estudos sobre a masculinidade, em Portugal, seguiu uma dinâmica distinta da americana, visto que não foram o produto do movimento masculino. Já podemos falar em estudos sobre as mulheres, mas os estudos masculinos ainda continuam inseridos nos estudos do género. Entretanto, a acção da imprensa portuguesa tem-nos levado a falar sobre este movimento e sobre as imagens do novo homem, nos Estados Unidos, quase ignorando as particularidades da nossa sociedade. Assim, ante a incipiência dos estudos masculinos em Portugal e esta presença, quase constante, da problemática da crise de identidade, em determinados jornais e revistas nacionais, decidi debruçar-me sobre as questões da masculinidade em crise e do movimento masculino americano.

Isto porque este estudo se insere num projecto pessoal mais amplo, que é o de analisar a crise do modelo masculino tradicional numa sociedade profundamente marcada pelos valores do poder sexual masculino e da virilidade, como é a sociedade portuguesa. E para perceber o impacto do movimento americano na nossa sociedade, é necessário estudá-lo primeiro. Porém, e independentemente dos meus projectos pessoais, esta tese pretende alcançar um propósito maior: motivar o surgimento de mais estudos académicos na área da masculinidade, ao despertar a curiosidade para a reflexão das várias facetas do que, genericamente, se entende por masculinidade.

Tomando em consideração todas as condicionantes inerentes ao facto de estar em Portugal a realizar um estudo sobre a sociedade americana, optei por abordar a questão da masculinidade em crise e do movimento masculino através da análise de Iron John: a Book about Men. Isto porque, de acordo com o sociólogo americano Michael Schwalbe,

much of what has been said about the men drawn to this movement (men’s movement) has been based on contentious readings of Bly’s Iron John and other movement texts without benefit of a close, sustained look at the men themselves3.(3Schwalbe, Michael. Unlocking the Iron cage: the men’s movement, gender politics, and american culture. Oxford: Oxford University Press, 1996: 4).

O tema central desta dissertação é a análise de Iron John, enquanto parte integrante da Pop Culture norte-americana, através do diálogo que se irá estabelecer entre a obra em si e o material intelectual produzido em decorrência da obra, tanto ao nível da imprensa como do meio académico. A pertinência da escolha do livro de Robert Bly deve-se à consequente crescente fortuna literária para além do território dos Estados Unidos, mais em particular no Reino Unido, Alemanha e Brasil. Ou seja, as questões levantadas por Robert Bly são cada vez mais actuais quando falamos em termos de sociedade global, tendo em conta, evidentemente, as diversas clivagens existentes a esse nível. Mas também porque passados oito anos da sua primeira edição, a obra continua a ser fortemente contestada por uns e defendida por outros, à medida que o próprio movimento mitopoético (subdivisão do movimento masculino) vai ganhando maior visibilidade social. Visibilidade essa que é tanto fruto do argumento político de Bly, e dos seus colaboradores mais próximos, como também do tipo de atividades desenvolvidas nos encontros dos mitopoetas.

A problemática será a da luta pelo poder e a sua legitimidade, dentro do contexto das relações de género, a partir de uma polémica que se tornou pública. Permitindo-me lançar, desde já, um ponto para futura reflexão: a progressiva valorização dos atributos associados à identidade de género feminina, por parte da sociedade, como um todo, e a crescente identificação dos homens, entre si, que de alguma forma se encontram relacionados com o men's movement e todo o discurso do backlash ao movimento feminista, poderá pôr fim a uma posição assimétrica nas relações de poder ente os sexos? Será que a reflexão suscitada pelo livro de Robert Bly está a contribuir para reforçar, alterar ou anular a assimetria sexual? A resposta a estas questões só poderá ser obtida através da análise aos artigos suscitados por Iron John e ao próprio livro, confrontando-os. Isto porque partilho da tradição weberiana de examinar as construções culturais do ponto de vista dos actores inseridos no sistema cultural. Porque muitos dos aspectos particulares das concepções dos sexos, sexualidade, entre outras, só fazem sentido se interpretadas como emanações das perspectivas dos actores, agindo dentro de um sistema social de regras e mecanismos que governam a diferenciação do status.

Os artigos selecionados para esse efeito foram os principais artigos publicados nos Estados Unidos entre 1990 (ano de lançamento do livro) e 1996 (ano de início deste mestrado). Para tal, recorri aos serviços de informação da Embaixada dos Estados Unidos (USIS, Este serviço de biblioteca da Embaixada possui uma vasta colecção de cd-roms com os principais jornais/revistas publicados na América. A escolha dos artigos foi realizada da seguinte forma: tendo determinado o espaço temporal - 1990/1996 - utilizei como palavras-chave o título do livro e o nome do autor. Todos os artigos que possuiam como referencial estas palavras foram, sem exclusão selecionados).

Como se deve compreender, dada a democraticidade dos meios de comunicação social nos Estados Unidos, é-me impossível garantir que foram analisados todos os artigos que, durante esse espaço de tempo, referiram como tema central Robert Bly ou Iron John. Porém, posso garantir que os mais importantes fazem parte desta amostra de 24 artigos. E por três razões: primeiro porque muitos deles foram publicados em grandes jornais e revistas, como o New York Times, por exemplo. Segundo, pelo facto de que Connel, Faludi e Michael Schwalbe, teóricos fundamentais para este estudo, referirem alguns dos artigos compilados. E terceiro, porque tive a oportunidade de constatar que há uma referência aos artigos entre si, revelando que são os mais conhecidos.

Posso ainda afirmar que esta análise ao debate em torno de Iron John é a análise ao impacto de uma determinada ideologia na sociedade americana, através da percepção das tensões, conflitos, resoluções e não resoluções, inovações e mudanças, que o argumento de Bly comporta e acarreta, na busca pela felicidade masculina, na óptica do autor (A busca da felicidade - the pursuit of happiness - é o tema deste mestrado). Nesse sentido, o meu objectivo central é perceber quais as motivações de Bly ao escrever este livro: porque o fez e com que intuito.

Uma vez que uma das propostas do Mestrado em Estudos Americanos é a de incentivar estudos na área dos cultural studies, e que o próprio objecto de análise (Iron John: A Book About Men), dada a diversidade e complexidade de temas abordados, exige uma visão interdisciplinar, a tese que me proponho desenvolver terá como área disciplinar os cultural studies, numa perspectiva antropológica (com enfoque principal no tema dos ritos de passagem e ritos de iniciação relacionados com o género e a masculinidade) e sociológica.

Há ainda que ter em consideração que os estudos multi ou pluridisciplinares são uma característica da metodologia dos estudos culturais, estudos esses que, no contexto académico português, ainda são uma área emergente do saber.

De acordo com Raymond Williams(Williams, Raymond. Culture. Cambridge: Gavin Mackenzie, 1981), a abordagem cultural implica a utilização de uma metodologia que possibilite a interrogação crítica do fenómeno, abrindo um leque de variadas perspectivas e possibilitando explorar novas direcções e aplicar diferentes abordagens teóricas. Logo, a forma que me parece mais adequada para analisar a problemática de Iron John, pela sua complexidade, foi a dos estudos culturais (Esta tese de mestrado será escrita e formatada segundo a metodologia da Modern Language Assotiation of America (Gibaldi, Joseph. MLA handbook for writers of research papers. (4ª ed.) New York: The modern Linguage Assotiation of America, 1995).

Posto isto, gostaria ainda de apresentar a estrutura desta dissertação. A identidade masculina segundo Robert Bly: o paradoxo entre o real e o imaginado, é composta por quatro capítulos, excluindo a introdução e a conclusão: apresentação do livro e do argumento político de Robert Bly, o debate mediático em torno de Iron John e de Robert Bly, a teoria da masculinidade e a análise do argumento político de Robert Bly.

No primeiro capítulo optei por analisar o livro Iron John, em vez de, simplesmente, resumí-lo. Dito que Robert Bly desenvolve o seu argumento de uma forma descontínua, contraditória, e em alguns aspectos, confusa. Uma vez que o seu mero resumo não iria permitir ao leitor obter uma visão clara do livro, optei por uma abordagem analítica, a qual me permite não só chamar a atenção para algumas questões importantes, mas também expôr a forma como Bly diagnostica a crise masculina; de que forma faz o encadeamento do cristianismo, da Revolução Industrial e do movimento feminista, enquanto factores responsáveis pela crise; e a forma como justifica o processo de cura, com a estruturação do rito de reconstrução da masculinidade, a utilização da mitologia e dos contos de fadas (porque o conto Iron John é um conto de fadas escrito pelos irmãos Grimm).

O segundo capítulo tem por objectivo enquadrar o debate gerado por Iron John na imprensa americana, procurando identificar os pontos de consenso e de conflito, e as relações que se estabeleceram entre os artigos. Dada a diversidade de pontos de vista, este capítulo encontra-se subdividido em cinco grandes grupos temáticos: o primeiro foca a biografia de Bly e a relação desta tanto com o livro como com a posição de Bly no contexto do movimento mitopoético; o segundo, a crise masculina através da literatura produzida a esse respeito; o terceiro, o confronto entre o essencialismo e o construtivismo, na formação das identidades de género; o quarto, a crise masculina propriamente dita, a definição do conceito de masculinidade e as imagens masculinas, a relação entre emotividade e homofobia, e a busca da verdadeira masculinidade; o quinto, a superação da crise através do movimento masculino e do mitopoético, em particular.

O terceiro capítulo é fundamentalmente teórico, e tem o objectivo de permitir a compreensão mais profunda de todo o debate em torno da questão da masculinidade e da crise de identidade. Nesse sentido, este capítulo apresenta três blocos teóricos: o primeiro, aborda a teoria essencialista, construtivista, dos papéis sociais e do género; o segundo, a definição do conceito de masculinidade, a masculinidade hegemónica, as assimetrias sexuais e a homofobia; e o terceiro, a crise masculina, os estudos masculinos, o movimento masculino, o backlash e a restauração do poder da masculinidade dominante.

No quarto capítulo, desenvolvo os dois aspectos fundamentais para a compreensão do fenómeno em causa: o New Age e a masculinidade. A ideologia do New Age, porque através dela é possível compreender o uso que Bly faz da mitologia, da psicologia, e que fundamenta as actividades mitopoéticas. A masculinidade dominante porque existe uma profunda relação entre o grupo masculino alvo, na perspectiva de Bly, e a restauração do poder.

Desta forma, penso ter abrangido alguns dos multiplos aspectos que compõem a totalidade do fenómeno Iron John. Embora o enfoque principal seja a questão da masculinidade, senti a necessidade de aprofundar, por exemplo, a importância do New Age e o uso da psicologia. Entretanto, a mesma obra poderia ter sido analisada sob o ponto de vista principal da psicologia, ou da mitologia. Mas por uma questão de opção pessoal releguei estes aspectos para segundo plano.

Ainda relativamente à metodologia de análise, optei, sempre que possível, por dar voz aos intervenientes, daí que haja um número significativo de citações. Isto porque, para uma melhor compreensão dos diálogos, que se estabelecem entre a obra e o material intelectual produzido pela imprensa e pelo meio académico, é preferivel transpor determinados trechos considerados significativos, e exemplificativos, do que interpretá-los, reescrevendo-os. Esta opção teve ainda em atenção o facto de que tanto o livro, quanto os artigos, não são do conhecimento do público em geral, o que dificulta a apresentação de referências desacompanhadas de citações do autor para fundamentar ou ilustrar a minha análise.

Por fim, acredito que num contexto como o português, em que os estudos sobre as mulheres têm vindo a desenvolver-se cada vez mais, os estudos na área da masculinidade só virão a contribuir para uma melhor compreensão das relações entre os sexos, de forma a que se possa contribuir, de forma activa, para um melhor entendimento entre eles. É o que pretendo com este trabalho.

 

 


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